Sala de recursos não é reforço!

29/10/2021

Fabiana Leme de Oliveira

Foto: 1 mão polegar para cima e outra mão polegar para baixo
Foto: 1 mão polegar para cima e outra mão polegar para baixo

É muito comum que familiares e outros professores confundam o papel do atendimento especializado de contraturno com o atendimento voltado ao reforço escolar.

Mesmo após mais de 12 anos de programa*, enquanto política pública para apoio da educação inclusiva, ainda enfrentamos muitos enganos na sua implantação e no dia a dia dos encaminhamentos, planejamentos e atuação dos professores e professoras nesses serviços.

*Nota: No Brasil já existiam salas de recursos para algumas áreas da deficiência, mas o programa das salas de Recursos Multifuncionais foi instituído através do DECRETO Nº 6.571, DE 17 DE SETEMBRO DE 2008. que foi revogado pelo DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011.

Qual é a diferença de REFORÇO e RECURSOS?

Muitos alunos podem apresentar dificuldades em algum momento de sua vida escolar e mesmo com o auxílio do professor em sala e diferentes atividades pode seguir com problemas e ainda não entendendo algum conteúdo. Esse é o papel do reforço escolar, um momento de revisão de conteúdos com atividades diferenciadas e em turmas menores, possibilitando ao aluno uma melhor compreensão do que foi ensinado. Esse atendimento irá durar o tempo que o aluno ainda apresentar dificuldades.

Quando falamos de atendimento educacional especializado ou salas de recursos estamos falando de um atendimento de suporte à educação inclusiva, isto é, um atendimento complementar ou suplementar realizado à alunos com deficiência, com transtornos do espectro autista e com altas habilidades/superdotação.  

Diferente do serviço de reforço escolar o atendimento especializado deve levar em conta quais são as necessidades individuais do aluno em relação aos recursos de acessibilidade, à adaptação curricular, à estimulação de habilidades e competências variadas e as diferentes rotas de aprendizagem que o aluno apresenta e não há um período específico de frequência à esse serviço.

O que significa buscar rotas diversificadas de aprendizagem?

Como esse aluno com síndrome de down aprende? Qual raciocínio essa aluna com autismo desenvolve para resolver situações problemas em matemática? Quais recursos utilizar para desenvolver a linguagem desse aluno com surdez?

Essas e outras questões estão presentes no dia a dia da sala de recursos, pois a individualização do ensino é fundamental para a atuação do professor ou professor das salas de recursos. Buscar tecnologias assistivas ou metodologias alternativas são fundamentais para garantir a acessibilidade ao conteúdo com qualidade.

É importante que professores das salas regulares e do atendimento de contraturno mantenham uma parceria e uma troca de informações sobre suas observações, pois buscar caminhos alternativos para aprendizagem não é tarefa exclusiva do professor especializado. Existem situações na sala de aula que são impossíveis de reproduzir no contexto de atendimento de contraturno, como um debate ou trabalho em grupo por exemplo. 

Orientação às famílias

No atendimento de contraturno a parceira com a família e com os profissionais clínicos é fundamental para compreender possibilidades e limitações específicas desse aluno e propostas de como ampliar seu desenvolvimento.

É importante também orientar às famílias sobre as diferenças do atendimento de contraturno e um reforço escolar, por exemplo. Nesse sentido compartilhar o planejamento individualizado pensado para aquele aluno ampliará a compreensão sobre os objetivos de ensino e aprendizagem para o ano, ampliando a parceria com os familiares.

Individualização do ensino 

vários ícones humanos em preto e um em amarelo
vários ícones humanos em preto e um em amarelo

Uma das maiores diferenças entre salas de recursos e do reforço escolar é a individualização do ensino. É fundamental que a avaliação e o planejamento sejam realizados de forma individualizada. Esse plano se apresenta com vários nomes: PDI (Plano de desenvolvimento individualizado), PEI (plano de ensino individualizado) ou PI (Planejamento individual). 

Independente da nomenclatura, a proposta é que o aluno receba uma avaliação específica em relação suas habilidades e suas aprendizagens assim como suas dificuldades ou limitações e assim é possível traçar uma rota, um planejamento específico para o desenvolvimento desse aluno.

Se tratando de educação inclusiva, ainda temos muito à discutir sobre o atendimento especializado e esse artigo têm a proposta de refletir sobre alguns pontos, colaborando com a reflexão e com o esclarecimento.


Fabiana Leme
Fabiana Leme

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